Informe e Avaliação do CUV de 30 de setembro de 2009
Tudo Que é Sólido Se Desmancha No Arpor Daniel Nunes
Toda última quarta-feira de todo mês, o Conselho Universitário (CUV), órgão máximo de deliberação da UFF, se reune. Contudo, a última vez que o CUV se reuniu e deliberou sobre algum assunto foi em sessão ordinária no mês julho. De lá para cá, tivemos o CUV de agosto sem quorum, a convocação, por parte de Conselheiros, através abaixo-assinado, de um CUV extraordinário em setembro, que também não alcançou o número mínimo de conselheiros para iniciar, e o CUV ordinário de setembro, dia 30, que finalmente obteve quorum para iniciar a sessão. Mas não se anime, nada foi decidido porque em determinado momento não havia presentes suficientes para deliberar sobre matéria alguma.
Será que nossos Conselheiros são tão relapsos assim!? Pode-se dizer que sim, mas essa é uma meia verdade. Acontece realmente do CUV por vezes não ter quorum por conta de descompromissos. Mas o que tivemos nesses últimos conselhos foi uma movimentação deliberada de parte significativa dos conselheiros, liderada pelo Magnífico Reitor Roberto Salles, de esvaziamento do plenário para trancamento da pauta. O objetivo é a não realização dos plebiscitos necessários para chegarmos próximos ao fim da discussão do novo estatuto da UFF.
O CUV de dezembro passado deliberou, em votação na qual o grupo do Reitor foi derrotado, pela realização no ano de 2009 de um plebiscito sobre três temas polêmicos que constam do processo estatuinte. Quais sejam: um, se teremos na estrutura da UFF três conselhos superiores (como hoje) ou apenas um; dois, se teremos uma ouvidoria na UFF; e finalmente, três, sobre a gratuidade ou não de todos os cursos oferecidos pela UFF. Este último é o ponto que motiva esse grupo de conselheiros a trancar a pauta.
Não sei o que dá mais medo à Reitoria e seus aliados, se uma ainda hipotética vitória do “não” aos cursos pagos e “sim” a uma UFF 100% gratuita, ou o fato de qualquer plebiscito ou discussão mais profunda acontecer na UFF e por conseguinte sua comunidade tomar apreço por participar das decisões. Diante um governo oligárquico com sede na Miguel de Frias, que tem tamanho desapego por valores como transparência e democracia e pelo caráter público da UFF, não se sinta diminuído por não conseguir matar essa charada.
Mas o CUV de 30 de setembro pelo menos iniciou, com faixas e dizeres do tipo “Não ao Plebiscito”, “Abaixo o muro de Berlim”, trazidas por um grupo que se intitulava de “A Engenharia”. Não o chamarei de “A Engenharia”, em respeito aos diversos dos membros da comunidade acadêmica da Faculdade Engenharia da UFF que não creditariam a esse grupo o absolutismo sobre a Escola de Engenharia da UFF. Por outro lado, não posso deixar de salientar que este grupo é liderado por Hermano, diretor da Faculdade, e Paulo César, professor e assessor.
Havia também no CUV estudantes, professores, técnicos e conselheiros com a finalidade pressioná-lo para se encaminhar o Plebiscito. Trocando em miúdos: que seja marcada a data e deliberada a forma do processo plebiscitário.
Foram muitas as falas durante o pinga-fogo (oito falas livres que dão início ao CUV) que tocaram no assunto do plebiscito, alguns reivindicando a realização e outros protestando contra o plebiscito. Friso aqui a fala do Professor Paulo César, que, de tão contundente e transbordando um sentimento de tanta autoridade, parecia acreditar não só que ele próprio se fazia ali a encarnação da Faculdade de Engenharia, mas também de todo conhecimento produzido pelo que se costuma indicar com as engenharias. Foi até o ponto de buscar intimidar um professor da faculdade de engenharia, professor Emmanuel, vice-reitor, dizendo que este envergonha a Escola por se posicionar favoravelmente ao plebiscito.
Arrogâncias a parte, o fato sólido deste CUV foi a aprovação, 33 votos a 32, da proposta da banca estudantil de pôr em regime de urgência a matéria do plebiscito, ou seja, que o Plebiscito fosse de fato encaminhado naquele Conselho. Mas, como chegou a dizer um importante pensador do século XIX, “tudo que é sólido se desmancha no ar”. Imediatamente após a aprovação da matéria, o CUV foi se esvaziando, até chegarmos ao ponto de não haver mais pessoas presentes. Não é surpresa, mas as 65 conselheiros que contávamos no início se tornaram apenas 33, número insuficiente para deliberar. A sessão foi suspensa.
Cabe uma reflexão. A Reitoria, conhecida por ser um balcão de negócios, um lugar de troca de favores com dinheiro público, (É só lembrarmos da maneira como são distribuídos prédios mais ou menos virtuais do REUNI e das promessas, essas mais virtuais, de prédios e professores prometidos para que o REUNI fosse aprovado em pleno Tribunal de Justiça); mas como dizia, a Administração Central, dirigida pelo Magnífico Reitor, construiu, sem projeto definido, através de práticas dignas da República do Café com Leite, uma relação de autoridade sobre um grupo de diretores de unidades e conselheiros universitários pau-mandados, o que possibilita todas essas manobras. Seria engraçado, se não fosse tão sério, ver tantos doutores vestindo cabrestos.
Para os mais desinformados, algumas informações soltas: - o nosso estatuto é da época da ditadura militar; - nosso reitor, além querer acabar com o plebiscito já aprovado, em votação na qual foi derrotado, também busca derrubar a paridade no tapetão; - Salles está sofrendo uma queixa crime por não fazer eleição e nomear interventores em Unidades; - responde por improbidade administrativa diante das contas mal feitas ou não feitas da FEC.
Daniel Nunes é Estudante de História - UFF Niterói e Secretário do Departamento de Psicologia.
1 comentários:
Prezado Daniel e demais seguidores
É realmente um prazer ler o texto do Daniel (para os que não sabem, Daniel já foi nosso funcionário do PUVR), que com sua clareza e objetividade trazem a crônica de nosso Conselho máximo ao nosso conhecimento.
Envio esse comentário, Daniel, apenas para cumprimentá-lo e dizer que concordo com você em, digamos 95%. Os 5% restantes reservo à construção do Campus Aterrado, em Volta Redonda. Essa obra realmente está sendo feita com recursos do REUNI, mas devemos lembrar que ela não foi objeto de nenhuma negociação ( eu nunca fiz parte nem votei no CUV). Pelo contrário, ela é fruto de um grande esforço e sacrifício da comunidade de Volta Redonda e de fato do reconheciemnto das grandes dificuldades de infraestrutura por que passam a Escola de Ciências Humanas e Sociais de Volta Redonda, que ainda está sem sede. Talvez, no entanto, não seja coincidência que tenha sido necessário que esta obra fosse totalmente concebida, idealizada, planejada e projetada e estava sendo gerenciada pelo PUVR e, talvez por isso, estava dando muito certo (torcemos para que continue e esteja pronta até janeiro/fevereiro de 2010). Ela é real ( os alunos da ECHSVR deveriam visitá-la!), não é uma "obra virtual" ( ótima definição).
Um forte abraço
Alexandre J. da Silva
Prof. Associado II da EEIMVR, ex-Diretor do PUVR
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